[img_assist|nid=2998|title=A irreverência de Tom Zé também marcará presença em Santo André no domingo|desc=|link=node|align=center|width=400|height=267]
O músico Tom Zé sempre apreciou a conexão de estilos e novas experiências na combinação dos sons. Seu perfil multifacetado não se vincula apenas ao aspecto tropical da natureza brasileira. Originária nos anos 60, quando novos artistas representavam a ânsia de uma geração efervescente, a obra do compositor e, sim, cantor (ao contrário do que muitas vezes ele afirma) tem forte relação com a atmosfera urbana e industrial andreense.
Sua temática se mistura também à antropologia. E, como estudioso que é, mostrou entusiasmo em se apresentar no Festival de Cultura Industrial de Santo André no próximo domingo (22), às 20h30, no Paço Municipal. “Resgatar essa relação do rock´n roll com o lado urbano e industrial é um achado. Essa ideia é uma tese que poderia ser trabalhada e defendida em qualquer doutorado de uma universidade”, afirmou.
Vasta obra
Aos 73 anos, ele, cujo nome original é Antônio José Santana Martins, mantém a jovialidade e a dinâmica do início da carreira, na época do Tropicalismo, quando foi alçado à fama ao lado dos baianos Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa -, seus conterrâneos -, entre outros.
E insiste em superar barreiras, desafiando sua vocação, colocando-a em xeque diante dos espectadores, numa mistura de sons discrepantes de um menino travesso, contrabalançados por versos doces de um romântico inverterado. “Só faço o que não sei fazer”, orgulha-se, ao citar aventuras pelo samba (Estudando o Samba, 1976), pelo pagode (Estudando o Pagode, 2005) e pela bossa nova (Estudando a Bossa Nova, 2008), que integram sua vasta obra, composta por mais de 20 CDs e LPs, desde 1968, sempre ligada de alguma maneira ao rock. Seu último trabalho foi o CD O Pirulito da Ciência, com versão também em DVD.
Tapete vermelho
Não será a primeira vez que Tom Zé se apresentará em Santo André. “Fiz dezenas de apresentações na cidade, inclusive participando da inauguração do Teatro Municipal na década de 60”, lembra. A fama que adquiriu nos Estados Unidos não é suficiente para ele se considerar consagrado. “Tapete vermelho para mim ainda está longe. Na verdade, tenho de matar um leão por dia. Sempre que subo ao palco sei que metade das pessoas presentes não me conhece”, observa. Seu oficio, porém, é justamente conhecer os sons, as técnicas e assim as pessoas, apresentando-se a elas com esta disposição.
É assim que ele se mostrará em Santo André. De peito aberto, respeitando as características do público jovem - para ele um alimento da renovação musical. “Estudiosos escrevem páginas e páginas sobre a linguagem da indústria. Décio Pignatari, Humberto Eco...E esta cidade tem uma capacidade aguda de entender isso por meio do rock, que conta um pouco dos hábitos e do ritmo da vida de cada um”, finaliza.
Eugenio Goussinsky